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Convocatória Jornada 2024 

A formação do analista não é sem o ato psicanalítico.

A Jornada da Práxis Lacaniana/Formação em Escola deste ano de 2024 acontecerá sábado, dia 21 de setembro, em sua sede, no salão de ensino, com o tema “A formação do analista não é sem o ato psicanalítico”. Esse título foi extraído do Seminário 15, O ato psicanalítico, a partir das letras que Lacan nos endereça em torno da questão do que é o ato psicanalítico na direção de sua dimensão lógica.

 

O ato psicanalítico é um acontecimento próprio a esse campo que toma seu valor pela articulação significante à medida que introduz o inconsciente. Isso situa que a psicanálise implica uma outra dimensão inteiramente distinta, uma dimensão renovada do sujeito pela colocação em ato do inconsciente. Dessa forma, é fundamental sustentar a pergunta lacaniana: em que ponto vivo, em que nó, a psicanálise se distingue pelo que diz respeito a seu ato?


Quando seguimos na leitura do Seminário 15, vamos nos dando conta de que Lacan nos remete a alguns pontos cruciais a propósito do estatuto do ato do psicanalista. Trata-se, na psicanálise, de um sujeito que é efeito de leitura, efeito de linguagem, a partir do fato de que um significante representa o sujeito para outro significante, que não se significa a si mesmo, e que produz um resto. Assim, esse sujeito é dividido, sucede ao ato e não o comanda, ou seja, o ato só toma valor a posteriori, marcando um início lógico. Trata-se da hiância radical que Freud situa ao descobrir o inconsciente, um lugar ético, um vazio central, para a interpretação do desejo.


Do ato psicanalítico podemos dizer, num primeiro movimento, que ele não é bem-sucedido senão como ato falho. E se não há, ao começo, nada de tão bem-sucedido quanto a falha referida ao ato, isso não quer dizer que uma reciprocidade se estabeleça e que toda a falha seja signo de algum sucesso do ato. Nesse sentido, são, justamente, os pontos em que o saber faz falha que, para nós, estão em questão, sob o nome de verdade, pontos que concernem ao sujeito na medida que ele tem que se colocar como sexuado.


A operação alienação toma sua existência na disjunção “penso onde não sou” e “sou onde não penso”, um paradoxo lógico no ponto de disjunção no qual há uma conjunção trazida pelo cogito cartesiano entre o ser e o pensamento. É preciso fazer emergir aí a transferência ao nível do sujeito suposto saber, SsS, significante proposto por Lacan como pivô da transferência. O SsS situa as dificuldades da posição daquele a quem cabe exercer o ato psicanalítico, uma vez que, fora do manejo da transferência, não há ato. O ato analítico, para o início de uma análise, tem a ver com a instituição do SsS, que autoriza o engajamento do analisante em sua tarefa. Para o final de análise, o ato tem a ver com a queda do SsS, para que este possa ser interrogado; o analisante deve contar com o objeto a produzido como saldo de seu trabalho, condição da expulsão do objeto a e da queda do analista.


Trata-se, portanto, de operações que dizem respeito ao atravessamento do fantasma, que exige logicamente que o objeto a se situe em termos da inigualdade do sujeito a toda subjetivação possível de sua realidade sexual – por estar situado em relação às operações referentes ao lugar da verdade.


A dimensão da verdade traz nela as dificuldades da incidência da babaquice, pelo fato de o órgão, que dá sua categoria ao atributo da realidade sexual em questão, ser, justamente, marcado por uma “inapropriação” particular ao gozo. É daí que toma relevo o caráter irredutível do ato sexual a toda realização verídica. Neste nível, o ato psicanalítico articula-se em resposta a esta deficiência que experimenta a verdade por sua proximidade com o campo sexual.


No ponto, da inigualdade do sujeito a toda subjetivação possível de sua realidade sexual, o objeto a vai se apresentar, no real, como parceiro sexual. Nessa distância, entre os dois gozos, do H e da M, que não fazem conjunção, temos a inserção dessa infinita complexidade, não só pela riqueza do desejo, com todas as suas inclinações, com as regiões, todo o mapa que se pode desenhar, dos efeitos ao nível de tais propensões que chamamos neuróticas, psicóticas ou perversas. Mas temos também, na direção que aponta para o final da análise, o surgimento de muitas soluções elegantes para a castração. No que diz respeito ao real da experiência de análise, com essas soluções “elegantes”, põe-se em jogo o risco de o sujeito poder ser levado a abrir mão de fazer existir o inconsciente.


Lacan, para interrogar o SsS, para sua queda em relação ao fim de análise, nos apresenta alguns elementos de lógica porque, na ciência, a lógica se define como algo que tem por fim reabsorver o problema do SsS. Portanto, diz Lacan, é pelo uso dos quantificadores, na lógica matemática moderna, que podemos progredir em relação aos problemas que dizem respeito ao que quer dizer “existe um psicanalista”.
A dimensão do SsS sempre foi reabsorvida e escamoteada pelos lógicos por não terem dúvida de que antes do nascimento da lógica moderna não havia ninguém que tivesse a menor ideia disso no interior da lógica. É pelo fato de o SsS não ser nada, em termos do que funda a existência da lógica e, em outro lugar, ser falácia, que estamos entre os dois, nada e falácia, buscando apoio, de um lado, na lógica e, de outro, em nossa experiência, para interrogar o SsS em relação ao fim de análise, interrogação necessária para que os psicanalistas não continuem, para sempre, sem tomar em conta esses efeitos. O que é ser psicanalista? Existe um psicanalista? Este é o alvo do que diz respeito ao ato psicanalítico.


A formação do analista não é sem o ato analítico, e é este que leva à formulação de sua formação como permanente. O psicanalista é aquele que só pode se comprometer com a transmissão da psicanálise a partir da existência do inconsciente. Portanto, é só a partir do real da experiência da análise que o psicanalista se autoriza para a sustentação da práxis enquanto discursiva. A transmissão daquilo que tem existência nele por ter se depositado como saber não sabido, em relação ao lugar da verdade, diante do fato que não há complementaridade entre saber e verdade, é o que o causa em relação ao campo lacaniano, e se lacaniano, portanto, freudiano é.


Convidamos todos os interessados no tema para virem trabalhar conosco e trazerem suas questões a respeito da formação e transmissão da psicanálise.


Aguardamos vocês!

Ouça o convite de Edméa Roque:

Programação

9h30

Credenciamento

"A formação do psicanalista não é sem o ato psicanalítico"
21 DE SETEMBRO 2024

 

10h00

Abertura
Isabel Martins Considera

10h10 às 11h10

Primeira Mesa
Coordenação: John  Milet Walton

“O ato, o passo e a lógica lacaniana na função do sujeito” 

Iaci Torres Pádua

“O ato analítico quanto ao ponto irredutível da experiência em que algo deve ser fundado”

Regina Luz

“Por uma prática lógica na psicanálise: a produção do objeto a enquanto artifício do efeito de um discurso”

Isabel Fernandez

11h10 às 12h10

Segunda Mesa
Coordenação: Gracinda Peccini

“A 'escola' e a transmissão do ato psicanalítico”

Edméa Roque

“A função lógica do sujeito não pode surgir como tal, recolocando em questão o universo do discurso”

Manuela Fernandez

“O ato psicanalítico e a existência lógica da função desejo de analista”

Cláudia Pitanga

12h15 às 14h30

ALMOÇO

14h30 às 15h15

Palestra de Noemi Sirota
"Ato analítico e tarefa analisante"

Escuela Freudiana de la Argentina

Coordenação: Antonia Portela Magalhães

15h15 às 16h00

Terceira Mesa
Coordenação: Marilu Guerreiro

“Uma operação entre saber e verdade – a produção do analista como resto de coisa sabida”

Gracinda Peccini

“O ato é, por sua própria dimensão, um dizer”

 Isabel Martins Considera

16h00 às 16h45

Quarta Mesa
Coordenação: Iaci Torres Pádua

“Do ato analítico, quê resulta como posição do sujeito no analista?”

Maria Auxiliadora Bragança de Oliveira

“O ato analítico, a lógica moderna e a abordagem do inconsciente”

Sonia Damasceno

16h45

Encerramento
Iaci Torres Pádua

Inscreva-se aqui para a Jornada de Psicanálise 2024

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